6.29.2011

Estou de novo no meu país



Estou de novo no meu país
ou num pedaço de terra exasperada,
que é o teu corpo,
com a mesma sede dos subterrâneos,
com a mesma ânsia do sol
que busca o poente debaixo do oceano.

Para ele parti todo dardejante
e sem deixar de colher o grito da noite,
Teu corpo onde me deito à noite
e atravesso de mar em mar
como quem procura o caminho súbito,
aqui que reside o ar, todo o calor, a melhor paz,
é o porto da chegada do vento, o céu dos pássaros j:
ou o verdadeiro vinho dos uvais,
ou mesmo o trigo.

Teu corpo,
só o teu corpo, meu amor, e mais nenhum,
tem flancos curvos, estradas profundas, algas livres,
estrelas marinhas, corais doces e ilhas e lagoas.

Porém cantar o teu corpo
é como se trouxesses a boca à beira do mar
e me contaminasses a saliva com o sabor do pão,
a luz e toda a sorte que procuro: o beijo,
os dedos, os corais, a cor da música e o uivar
das águas.


Adelino Timóteo
Moçambique