8.05.2011

Soneto escrito no cais


Barco serei, talvez, na hora parca.
Mas parco sou agora, reduzido
a ser, dentro do porto, seca amarra
do corpo que, no cais, me tem cativo.

Serei, depois, aberto, uma guitarra
horizontal num mar desconhecido,
gota de som que o vento leva, larva,
azul coral num longo atol de olvido.

Mas, por enquanto, a ruga que me lavra
é o arado com que mordo, vivo,
a terra aérea de que dou palavra
sem saber dela mais que um grão de trigo.

Assim, criança, vou bebendo incauto,
a hora barca de partir contigo.


António Luís Moita