10.18.2011

A cobra



E então o Senhor disse à serpente:

Serás maldita e deslizarás.
Todos os animais domésticos e ferozes te
odiarão. Rastejarás, serás
motivo de escândalo para as outras criaturas.
Terra comerás quotidiana.
Alimentar-te-ás das presas que tomares
por tua manha. Abrirás
desmedidamente a boca para comer ―
pois o fruto defeso hás revelado.

Habitarás da terra os lugares quentes,
contra a neve e o gelo não prevalecerás,
pois te arrefeço o sangue;
o inverno te será adverso e assim
todos os rigores da mulher e sua descendência
que, com pavor dos teus dentes astutos,
procurará esmagar-te a cabeça
e fracturar-te a espinha com o calcanhar
e assim a teus filhos e aos filhos
de teus filhos. E ―
pois inventaste a nudez ―
a pele despirás pela vida fora.

Meus desígnios goraste e o pecado
inauguraste ― pelo que
tuas próprias escamas te serão prisão,
o parto te será redondo e desconforme,
te secará um pulmão,
crescerás em peçonha e em vergonha

e assim seja até à
consumação dos séculos.

A.M. Pires Cabral