11.05.2011

Amor



No gesto, nas rugas,
nos olhos de um homem,
na seca floresta,
na terra gretada,
na tímida angústia
do sol que nos resta,
nas aves que tombam
feridas na estrada,
no pó que esvoaça,
na abelha que zumbe,
no vento que estala
chicotes no mar,
na lava latente,
nos tristes amantes,
nos braços que imploram
morrer devagar,
na rua, num beco,
num quarto, num beijo,
no verso que range,
no último sonho,
no vão realejo
que geme no exílio
da noite sem luar...
- em tudo se exprime,
tocando a rebate,
ingénua, terrível,
urgente, precisa,
a doce palavra,
sonora palavra
da sobrevivência!


António Luís Moita