11.05.2011

Café Schiller



Foi tudo em vão, novamente.
Estava a muitos quilómetros de Amesterdão,
se é que me percebes, embora gostasse
das riscas negras dos sofás, do metal
antigo dos candeeiros, do andar
tão firme de quem servia as bebidas.

Esta mulher vai entrar hoje
no meu passado. Não sei como se chama,
nem me interessa sabê-lo. Sorriu-me,
ou julguei que me sorriu, enquanto eu pagava
dois descafeinados, uma água com gás
e um Jameson que sabia mal, a desamor.
Vou pedir-lhe de troco o esquecimento,
a curta memória da blusa que lhe comprimia
o peito e dava às costas
um jeito irrepetível de prelúdio.

Eu, que vou morrer, desejei-te.


Manuel de Freitas