Dizer adeus não é dizer adeus
nem desdizer o que se disse já,
mas dissolver nos olhos vinte véus,
dar-lhes, salgada, a liquidez capaz
de transmutar a lâmpada ilusória
do lume antigo em cinza cinzelada
- pois nada do que é vivo se demora
e sempre é tudo a sucessão de nada.
Dizer adeus é só respirar fundo.
Não perguntar se te valeu a pena
o que passou, ou se me foi fecundo,
mas agregar, com gratidão serena,
de novo um potro novo ao meu poema,
como se dele dependesse o mundo.
António Luís Moita