6.05.2008




...não totalmente,
mas no inveterado fingimento
que o adjectivo tem.
E de inverno em inverno,
à reticência azul do teu sorriso
todos os dias
desço

Queria da vida:
um pêlo de gigante
que te fizesse enorme e te falasse
junto a voz
falada

Os meus dedos tocando
o teu sorriso,
que, de inverno em inverno,
é nave espacial
emergindo do gelo
para o sol

E eu ficar por ali: tão encostada
ao verso,
carregada de luz
e de outras coisas:
trabalhos a fazer, ritmos lentos

Sem grandes construções,
sem grandes falas,
mas de um pêlo solene de dragão,

e dentro da palavra que é imposta
por esta noite morna,
que me ajuda a compor-te,
que me ajuda de facto
a desesperar:

uma canção de amor.

Descer o teu sorriso e aterrar
em planeta diferente,
onde outras flores com outro nome
nascem,
e as estações são vinte,
ou mais
- sensivelmente.

Ana Luísa Amaral