Do que deixei de ser restam sinais
evidentes, audíveis, nesta praia.
Pegadas que se perdem nas demais.
A memória do vento em tua saia.
Restam dois dedos de água que regressa,
inacabada, à fonte mais propícia
do mar inicial. Âncora tensa.
Aroma, arado, um barco de cortiça.
Mas resta, sobretudo, areia solta.
A limalha e o sal - concha vazia
do que foi espuma e canto à nossa volta.
Nafta a arder nas dunas onde eu via
antigamente, alerta, uma gaivota
mudar o mundo, anunciar-me o dia.
António Luís Moita