8.07.2008




O sentido é uma ingénua formação que respira
e não culmina porque é o frémito
da identidade na distância ou num inesperado oásis
Pensamos que é a revelação de um segredo o amadurecimento de um fruto
e que a vida vai recomeçar e prosseguir com um novo alento
mas logo a matéria do tempo se interpõe entre o desejo e os nossos gestos
completamente alheia ao nosso desejo de ser
um corpo que habita o espaço e no espaço se consuma
O não-sentido é irredutível e em nenhum mistério vibra o que está por detrás dele ou não
porque o seu silêncio é tão absoluto como absoluto é o silêncio de Deus
Nada pode redimir o desamparo essencial o tremor de ser sem ser nos abismos da existência
Só a palavra que escuta e na sua escuta forma um espaço lento
pode recolher a luz do improvável como se este fosse uma respiração
e através dele o mundo se reconstituísse em ordenadas colunas
de um jardim banhado pela orla indolente de um voluptuoso mar


António Ramos Rosa