6.03.2010

Confirmações




Um corvo de remota idade e fatigado brilho
vem morrer à beira-mar.

Aguarda atento
que a luz propícia desça no horizonte
para entregar-lhe a força derradeira
numa surtida de acerada angústia.

Descaem-lhe do dorso opaco e magro
as digitais membranas:
acumulam detritos de excremento branco.

Sobe-lhe à tona o olhar antes profundo
a vomitar o fluido da ansiedade.

Projecta-se disperso à contra-luz.
Reduz-lhe o contorno ardendo ao sol poente.
Entra no sonho às cegas ganha altura
e tomba leve e negro no areal fictício.

Breves segundos mais
para que o vento alcance a história curta.

Depois renasce em escamas de carvão.


Ruy Duarte de Carvalho
Angola