6.05.2010

De antes que expirassem os moribundos


As balas doem companheiros

Não a dor física
Do chumbo percutido
Que o ódio calibrou
No almofadado sossego
Dum gabinete qualquer
Não
Não a presença agónica
Dessa infalível certeza
Que irredutível se insinua

Nas fracções de segundo
Que os séculos devoram

As balas doem sim
O tempo que nos faltou
Para salvar os companheiros
Nossos velhos companheiros
De novas humilhações
Novas rotas de cacau
Cacau oiro e marfim

Novos escravos a leiloar
Nos areópagos da hipocrisia
Novos deuses crucificados
Na subversão das micaias
Que a nossa África abortou

Oh as balas doem sim irmãos

As balas doem


Rui Nogar
Moçambique