1.28.2011

Criança



Tu ! Que a ninguém pediste para vir ao mundo.
Tu! Que és o fruto daquele grande amor!
Daquele amor que leigos e jurados testemunharam
Daquele amor fogoso, de muita mentira
Daquele amor selvagem
Daquela violência que marcou tua mãe para todo o sempre
Por tudo isso, criança
Muito amor e muita rejeição te marcam.
Então não vejo?
Vejo sim criança!
Vejo quando divagas com a manada à procura de pasto.
Chova, troveje ou debaixo do sol árido estás ali!
Vejo nas grandes escolas lá da cidade alta
Quando logo pela manhã, bem equipado, o carro te deixa à porta do colégio
Quando desces do Chapa e cuidadosamente atravessas as largas Avenidas
Quando te metes naquela modesta rua a caminho da escola
Quando com camisola e sapatilhas rotas lutas por vencer a pobreza
Quando passo por ti ali no passeio encostado à padaria com uma bacia
vendendo badjias
Quando com uma caixa de papelão repleta de quinquilharias interpelas a todos
Tentando ganhar qualquer coisinha.
Quando junto ao semáforo te aproximas de cada carro pedindo uma moeda
Ó criança,
Ergue a cabeça
Ergue a cabeça e grite bem alto pelos teus direitos
Grite e lute com todas as armas e forças, pois,
Criança! Tu és o nosso amanhã
O País conta contigo amanhã


Fátima Langa
Moçambique