1.18.2011

Luzem teus olhos



luzem teus olhos
atingidos já
pela ascendente
e vertical frieza
que te humedece a pele.

teu corpo
pouco a pouco
mergulha no vapor
que te dilata os poros
e enrijece a carne a desdobrar-se
em gotas de suor
amargo e frio.

arredonda-se mais
a curva do teu peito,
e a condição de fêmea
que te vive por dentro
desdobra-se em mucosa do avesso
p’ra te envolver
de glandular oferta.

mantens-te vertical
mas mal suportas já
a macieza nua
de finíssima pele
que te transforma agora
a carne em flor.

progressivamente o teu vestido
denuncia
o alterar de ondas de seda
à superfície:
dois botões de rosa
fechados
no teu peito,
uma orquídea madura,
recente e aberta,
no teu ventre.

pertences, consciente, à fina raça
que traz a carne alerta e não despreza
a voz subtil de indícios de arrepio.
a tua carne é uma maçã que herdaste
corajosa
porque não temes abrigar um fogo
destinado
a temperar de estrelas.

ateias de olhar firme a labareda que te adormece as coxas,
dilatas decidida a catedral do peito,
afastas-te de mim ganhando altura,
orbitas-te num gesto de mulher madura.

Ruy Duarte de Carvalho
Angola