10.12.2008

Coisas da Terra


A Engrácia e a mãe
chegaram numa tarde de domingo.
A Engrácia é minha sobrinha
E a mãe,
Que eu ainda só vira duas vezes,
minha irmã.
Minha irmã...
uma pobre mulher,
uma simpática desconhecida
que vem ao hospital
ver o seu marido.

Esta é a minha gente.
Penso da mulher:
Parecemo-nos.
Temos os mesmos olhos e boca,
o mesmo nascimento de cabelos.

Oito filhos teve já a minha irmã.
Uma filha que lhe morreu
levou o seu nome.
Este mistério que eu sou!
Filha de outro pai,
noutra terra criada,
lá vivida!

Dou pão com manteiga à Engrácia,
Que não diz nada.
A mãe fala.
É o campo toda ela,
o seu cheiro até
e a sua resignação.
Conta coisas do António,
o meu sobrinho mais velho,
com o seu exame feito
e tão amigo de ler...
Mãe! coitada, penso.
Oiço-a,
esquecida do nosso parentesco.
As duas ali estão:
a criança vestidinha à cidade,
a mulher humilde e amável.
Tudo tão natural e pobre!

Irene Lisboa