10.12.2008

Marrabenta para Fanny Mpfumo


ao Zé Flávio Teixeira

Fanny Mpfumo cantava I love you so
eu era menino e nem sabia o que era tindjombo:
- ó a va sati valomo! –
mas já dizia hodi nos quintais contíguos
do meu Bairro Indígena.
Unga tlhupheque nkata que ouvia na rádio
por sobre o móvel da sala
na casa da minha avó
nomeava todas as mulheres que derrubavam
à passagem os meus inocentes e desprevenidos anos
ali na varanda do Muchina.
O king ya marrabenta era suposto
conviver conosco todos os dias.
Também ouvíamos Elisa gomara saia
nos tempos em que os Djambo 70 conjuravam
e o destino dos meus pais não era só
os míticos bailes da cidade de caniço.
O mufana que eu era também gostava
maningue do Gonzana e de todo o conjunto João Domingos
Massoriana no palato daqueles tempos.
Algumas vezes ouvia o João Wate
e outros que a memória não acautelou.
O Alexandre Langa foi mais tarde
que me empolgou – Rosa Maria.
Tínhamos atravessado
para lá do asfalto e alcandorados estávamos
na Polana onde inaugurávamos a nossa condição
de habitantes de fogos suspensos,
alcançados mais tarde em obscuras escadas
disputadas por bidões de água
acartados do jardim Tunduro.
Minha avó falava naqueles velhos anos
do Artur Garrido, conterrâneo lá de Ressano Garcia.
Mais tarde vi Fanny Mpfumo no Scala
- não muitos anos depois no Estrela Vermelha –
marrabentando uma guitarra eléctrica
no frémito do seu amor por Georgina waka Nwamba.

Nelson Saúte
Moçambique