4.04.2011

É isto: a noite de amanhã


É isto: a noite de amanhã
Tu levantas-te

Manhã e noite não se vêem ao espelho
antes o estilhaçam para dentro
desencontram-se interminavelmente
mas ouvem-se uma à outra entre as salas da casa

Tu estás súbita ali na esquina do corredor
sinto por momentos a tua cara negra
e a imensidão do teu corpo anoitecido

passas-me a manhã devagar
de mão a mão
como um mapa fosforecente

onde por certo íamos morrer


Manuel Gusmão