4.02.2011

Lamentações



Que solitária está a cidade
Enviuvou a mais povoada
Das nações.
Está de luto a que foi mãe
E em trabalhos forçados

Passa a noite a dobar a sua noite
À luz do pequeno brilho da lembrança
Não há a consolá-la nenhum dos seus amantes
Cresce o silêncio nos degraus da entrada
E encontra inimigos quando estende a mão

Foi levada para fora das muralhas
Foi levada para terra estéril. Foi humilhada
E posta ao serviço das escravas.
Dorme ao relento e sem repouso
Tomada de aflição.
Perseguida até ao fim
Das suas forças
Mesmo no sono é cercada

Está mais perdida do que numa encruzilhada
E venda os olhos porque qualquer luz
Ou a mínima palavra (ou a noite)
Lhe ferem os olhos rompidos de saudade

E nem os mendigos nas estradas
Têm um coração tão só


Daniel Faria