3.05.2007

Deuses


Terríveis vos senti sempre
Na imaginação.
Mas faltava-me a pânica emoção
De ver o vosso rosto verdadeiro,
Máscara desumana,
Sem possível piedade reflectida
No riso alvar e no olhar vazio.
Retratou-vos, temente, um trágico canteiro
A macerar na pedra os próprios pesadelos.
E é na mão do tempo corrosivo
Que confia
Quem, mortalmente vivo,
Vos desafia.

Miguel Torga