7.22.2007


Toda a noite acompanhei a tua viagem, Orfeu,
de fogo em fogo,
de melodia em melodia,
até o centro da Construção das Trevas.

Ah! E com que volúpia te vi de novo estrangular
a tua Eurídice
calada para sempre,
morta para sempre
- melodia
que só oculta no silêncio
atravessa as pedras...

E agora, Orfeu,
raiz do avesso,
vejo-te regressar lentamente à superfície da Terra,
com as mãos desfeitas em flor de orvalho
no fogo consumido.

Amanhece.
O planeta é de vidro.



José Gomes Ferreira