10.16.2009

Divagação



Quando morrer
quero correr o mundo. Nas primeiras horas
desse lusco-fusco, colocarei a última pedra
na estrada que minha mãe rasgou no mapa
acenado por meu pai em terra desbastada.
Depois começarei a viajar. Começarei por Paris.
Não perguntem porquê Paris. Quem sabe,
pela erudição dos mendigos
a celebrar os seus excessos

Quando morrer
quero conferenciar com Deus. Na primeira
aula de catequese instalou-se a ideia
que Deus era um relógio igual ao de Brooklyn
existente na casa dos meus avós.
Era perfeito, infalível o relógio
manufactured by the Ansonia Clock Company.
Não por ser americano ou pertencer à família,
mas porque mediava a história do mundo interior,
mais a crença naqueles que não se escondem
para morrer; e no exterior em mutação
padecendo de amnésia.
Um dia o relógio avariou, deixei de crer em Deus.

Quando morrer
quero dizer a Ele tudo isto, até O convidarei
a viajar comigo. Quem sabe, não iremos a Brooklyn
falar com os donos da Ansonia Clock Company
para um certo de contas
e clarificação de dúvidas.


Ivo Machado