10.27.2009

Neste norte gelado e branco



Neste norte gelado e branco
o horizonte torna-se um corpo velho
deitado sobre a terra adormecida.

Os pássaros escrevem a negro
o voo calado da fome
e os céus enchem-se de uma
linguagem tracejada e agressiva.

(…)

Sim, porque aqui o amor não
se enraiza com profundidade.
E encostado a superfície
de modo osmotico
repetindo-se com a insolência
tatuada no rosto da vaidade.

E e nestas terras brancas sem açúcar
onde os Deuses foram substituídos
pela intoxicação loura do malte,
que o meu tempo se vai desdobrando
sobre um mar molhado de silencio
e eu me vou tornando memoria antiga
sobre a paisagem cerzida
pela dor vitrea e brilhante
das lantejoulas do frio.

(inverno escandinavo II)


Andrea Paes
Moçambique