10.29.2009

Poema número onze


(Às valentes mulheres-carregadeiras do Mindelo - 1950

Chamo-te Guida,
podias ser Chica,
Tánha, Bia ou Silvina,
valentes mulheres
Vejo-vos a todas
de ancas bamboleantes,
canhoto na boca,
saias p'la cintura,
por cordas presas,
no velho cais de madeira
à espera de fretes,
sentadas
milho branco de Angola,
bananas de S.Antão,
ou S. Nicolau!
esperando.
Tánha e Bia juntas,
Rua Lisboa acima
sobem,
sacas de milho
dente de cavalo,
às costas
transportando...
Suor nos rostos
escorrendo,
pés
no negro basalto,
figuras desenhando.
Mulheres de aço,
rijas como
negras rochas
de Cabo Verde,
do vulcão paridas
Tánha e Bia,
sorridentes,
Rua Lisboa acima
vão indo, andando,
com saca
de milho dente de cavalo,
às costas
transportando.
Suores e sorrisos
nos rostos sofridos...
Dura vida,
vida dura
da mulher-carregadeira,
de um S. Vicente
de outrora, (1950)
só no pensamento
dos mais velhos, como eu,
infelizmente ainda presente...


Adriano Gominho
Cabo Verde