10.18.2009

Entre luz e sombra

(A Leopold Sédar Senghor)

A sombra desliza
por detrás dos vimes
celebra-se a hora
os mortos abandonam os vivos
para viver em paz
por entre as veias finas da terra.

Acendo com as mãos das mães
a candeia antiga de óleo de palma
A serpente do lugar dorme
sobre seus ovos de vida
Os guardiães das fontes
preparam a madrugada
enquanto as mulheres dos clãs
de cima
provam a comida da noite
e velam pelo fogo
das oferendas.

Uma antiga fúria oferece
a fórmula
limpa as palavras
de todas as sílabas mortas.

Regressa a velha canção serere
de seda e sombra
como o silêncio das mães.

O nó da voz atravessou a vida
sustenta a metade da terra
onde deslizam as sombras
por detrás dos vimes
Celebra-se então a hora
os mortos abandonam os vivos
entre sombra e luz
nas veias finas da terra.


Ana Paula Tavares
Angola